jueves, 6 de mayo de 2010

Pequenas Diferenças, Grandes Problemas

Hoje fui fazer meu exame de nível e fazer minha inscriçao no curso de espanhol. Fiquei surpreso com o resultado: entrei no intermédio 3, o sétimo nível dos oito oferecidos no CEPE – Centro de Ensino para Estrangeiros da UNAM. Deduzo que a explicação disso, primeiramente, vem do fato da minha língua materna ser a portuguesa e da sua semelhança com o castelhano; depois, das parcas aulas intensivas que tive há quatro anos quando atendia clientes da América Central e México; e, por fim, das práticas que tive com amigos que falavam espanhol enquanto morava na Hungria no ano passado. Mas a despeito de que possa parecer muito fácil o tal espanhol pra lusófonos, aí vai um alerta de quem já sentiu na pele os apuros que essa impressão pode trazer: não é!

Claro que pra brasileiros é mais simples aprender espanhol que qualquer outra língua no mundo – enquanto que a recíproca, por incrível que pareça, não é verdadeira –, mas exatamente a similaridade dos dois idiomas é que esconde uma série de armadilhas que fazem do seu aprendizado um prazeroso desafio.

Pra começar, os erroneamente chamados “falsos cognatos” são muitos! Primeiro, o clássico: embarazada (lê-se embaraçada) não é uma menina com vergonha, mas uma grávida. Todavia é ainda; cena é janta; polvo é pó; rato é momento. Alguém que te pergunta se ¿estás formado? não quer saber tua graduação, quer saber se você está na fila. E deduzir também é um exercício perigoso: quedar não é cair, é ficar; taller não é talher, é atelier; regalar não é arregalar, é dar. E por aí vai...

Depois vem a diferença cultural que cai sobre a língua: experimente ir a um supermercado mexicano e pedir por “durex”. Certamente vão te indicar a área de fármacos ou pra pedir na boca do caixa, isso porque o sinônimo de fita adesiva brasileira, no México, é a mais popular marca de preservativo. Por falar nisso, por aqui quem está com a Sida não anda na companhia de uma senhora, tem AIDS.

Por fim, a pronúncia. A letra erre, por exemplo, tem som real de erre - aquele de locutor de rádio: “Rrrrrronaldinho” -, e o som do nosso erre brasileiro é grafado usando as letras ge e jota. Então existem dois verbos: o correr (andar rápido) e o coger (que, traduzindo, é “pegar”, mas na gíria significa “transar”). Aí imagine um brasileiro com seu sotaque característico gritando pra um amigo mexicano “vamos correr para tomar el autobus”. Gargalhada certa!

Contudo, antes de me forçar no aprendizado do espanhol, achava tal língua monótona e insípida. Porém, depois de começar a me aventurar no idioma de Cervantes, Marques e Galeano, não entendo meu passado e só posso me arrepender de não tê-lo iniciado antes. Hoje, acho que todo brasileiro tem quase que o dever de saber pelo menos o básico dessa que é a terceira língua mais falada no mundo, seja pela importância como ferramenta de comunicação ou pela mera sutil beleza de seus detalhes.

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